Olimpíadas de Tóquio 2020 e a relação com a Fisioterapia Esportiva
A área da Fisioterapia Esportiva tem crescido cada vez mais, seja em clínicas particulares, clubes de esportes ou competições. No mês de julho de 2021, Tóquio vivencia as Olimpíadas de 2020, com o atraso de um ano devido à pandemia da Covid-19. O evento tem a participação de diversos profissionais da área da saúde, incluindo Fisioterapia.
Para entender melhor a atuação da Fisioterapia Esportiva em competições como os Jogos Olímpicos, entrevistamos o Fisioterapeuta Alexandre Ramos, que trabalhou junto à Seleção Brasileira de Voleibol Feminino, entre 2010 e 2017. Além de mais de 50 competições em que defendeu o Brasil, participou das Olimpíadas de Londres, em 2012, quando foi Campeão Olímpico, e no Rio, em 2016.
Continue acompanhando o artigo para conferir mais sobre a entrevista e entender os aspectos da Fisioterapia Esportiva, dentro e fora das competições.
Fisioterapia Esportiva e a busca pela valorização no mercado
A alteração da rotina da sociedade devido à pandemia desencadeou uma série de novos hábitos, incluindo cuidados com a saúde e o bem-estar. A preocupação em manter a saúde em dia fez com que muitos alterassem a alimentação e incluíssem exercícios no dia a dia.
Fazer uma caminhada, dar uma corrida ou, simplesmente, se alongar pela manhã são hábitos que têm se tornado cada vez mais rotineiros na vida das pessoas. Mas, aliado aos exercícios, existe o risco de lesões e fadiga muscular devido a prática incorreta ou excesso de atividades. Por isso, para um bom preparo físico, fortalecimento da musculatura e prevenção de lesões é necessário o acompanhamento de um fisioterapeuta capacitado.
“Atividade física sem orientação ou trabalho sem orientação de posicionamento, significa lesão”, reitera o fisioterapeuta Alexandre Lopes Ramos, também conhecido como Alexandre Urso. Especializado na área de Fisiologia do Exercício e com experiência na Fisioterapia Esportiva desde 2004, Alexandre já atuou no vôlei do São Caetano Esporte Clube, em São Paulo, até meados de 2009. Nesse período recebeu o convite para integrar o time de fisioterapeutas da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino. Após um ano de trabalho, Alexandre assumiu a Coordenação Geral da Fisioterapia da Seleção Adulta, permanecendo como único profissional da área a acompanhar o time.
Apesar disso, no quadro de profissionais da saúde sempre estiveram presentes médicos, massagistas, nutricionistas, psicólogos e preparadores físicos. “Costumamos ver o atleta batalhando atrás de uma medalha, mas tem toda uma equipe por trás, e é até bom isso, elas que devem aparecer. Nós temos que consertar os problemas que aparecem”, comenta Alexandre.
A promoção da saúde e a melhora da performance física relacionam-se diretamente com a atuação de fisioterapeutas com especialidade na área da Fisioterapia Esportiva ou Fisioterapia Desportiva. Com isso, apesar de manter-se nos bastidores de competições, o trabalho da Fisioterapia tem sido cada vez mais comentado.
Além dos clubes e organizações que têm focado cada vez mais na prevenção de lesões, uma vez que o custo da reabilitação torna-se muito maior, o próprio atleta reconhece a importância da atuação de fisioterapeutas. Atualmente, clubes com maior estrutura buscam incluir no quadro médico, em média, de 2 a 3 profissionais da Fisioterapia. Mas, ainda podemos ver a constante evolução e procura por valorização da área, uma vez que existe um número muito alto de profissionais formados e uma pequena parcela em atuação na Fisioterapia Esportiva.
O que faz um Fisioterapeuta Esportivo?
O fisioterapeuta da área esportiva é responsável por planejar e realizar uma série de exercícios preventivos, melhorando o condicionamento e capacidades físicas, de acordo com cada modalidade e o foco do atleta trabalhado.
Além da prevenção de lesões, o fisioterapeuta atua juntamente com os demais profissionais da saúde, como médicos, nutricionistas, farmacêuticos e psicólogos, para que seja considerado todo o perfil clínico do atleta e as limitações físicas. Essa análise dá suporte para a rotina de treinamentos, intervalos de descanso durante as atividades e pontos a serem observados no cotidiano.
Por fim, a assistência fisioterapêutica pode ser realizada por meio de estudos clínicos como forma de entender as causas e consequências de lesões e doenças e, assim, indicar um tratamento adequado e personalizado conforme cada paciente.
Como um profissional da área, o fisioterapeuta precisa mostrar resultados consideráveis em pouco tempo. Porém, para que o tratamento seja eficaz, é necessário seguir todas as etapas planejadas, a fim de obter total recuperação do paciente e melhorar a performance e rendimento físico em futuras competições e exercícios propostos.
O atleta ou paciente tratado por um Fisioterapeuta Esportivo consegue visualizar melhoras de forma rápida e eficiente, o que colabora diretamente para o ganho de confiança na sua condição física e psicológica para o retorno efetivo às atividades.
Entrevista: Atuação do fisioterapeuta em Olimpíadas
Para entender o trabalho da Fisioterapia Esportiva na preparação dos atletas para os Jogos Olímpicos, conversamos com o fisioterapeuta Alexandre Urso. Morador da cidade de São Paulo/SP, Alexandre atua em sua clínica, a Fisio Alexandre Urso, que presta atendimentos na área da Fisioterapia Esportiva e Quiropráxica. Com experiência no mercado desde 2004, atuou por 7 anos na Seleção Brasileira de Voleibol Feminino, onde vivenciou dois ciclos de Jogos Olímpicos. Confira a seguir a entrevista com Alexandre Urso:
ZenFisio — Alexandre, você atuou durante 7 anos com o time da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino e, além de outras competições, pôde participar das Olimpíadas de Londres, em 2012, trazendo para o Brasil uma medalha de Ouro, e no Rio de Janeiro, em 2016. Como é a atuação de fisioterapeutas na rotina de treinamentos dos atletas? Quais pontos você busca focar para as competições?
Alexandre Urso — O nosso trabalho envolve alguns pontos que são importantes. O primeiro deles é o gerenciamento do atleta. Saber se ele está bem, se tem lesão ou histórico de lesão, saber qual atleta vai continuar jogando ou não. A partir disso, vamos acompanhar os atletas que estão com lesão ou machucados e quem vai precisar operar. Então, sabemos que existe um tempo X pra recuperar aquele atleta e vamos trabalhando em cima da prevenção, que é o principal objetivo da Fisioterapia Esportiva. Em cima dos dados da avaliação direcionamos e entendemos qual a necessidade do paciente pra evitar que ele se machuque. Em cima disso, é traçado todo um plano de prevenção individualizado e também um plano de ação coletivo.
Por exemplo, no vôlei a gente sabe que tem muito atleta que torce o pé pisando em cima do pé de outro atleta e que tem muito atleta que tem tendinopatia devido aos saltos. Então, trabalhamos em cima desses pontos, pensando numa evolução pra que não se machuque na fase que ele precisa. Esse é o período que antecede os Jogos Olímpicos.
Chegou a hora dos Jogos Olímpicos, não vai mais adiantar trabalhar com prevenção. A gente já fez tudo isso durante os outros 4 anos. O nosso trabalho ali, vai ser evitar que o atleta sinta alguma dor ou desconforto, organizar eles no sentido emocional, físico e trabalhar a resposta corporal dele. Além disso tudo, trabalhar com a ideia de uma lesão isolada antes da competição imediata ou na competição. Nestes casos, tentamos reabilitar o mais rápido possível, pra evitar que essa lesão progrida. Se tem alguma sobrecarga mecânica, trabalhar em cima disso, pra que não tenha tanta resposta de dor. Literalmente, nosso trabalho é apagar incêndio durante aqueles 15 a 20 dias de Jogos Olímpicos.
ZenFisio — Como você comentou antes, o trabalho do fisioterapeuta é focado na individualidade e, no caso dos times, em um plano de ação coletivo. Apesar das diferentes modalidades que fazem parte dos Jogos Olímpicos, essa é uma estratégia que a maioria dos profissionais da Fisioterapia Esportiva devem adotar, fazendo um planejamento de acordo com o perfil clínico de cada atleta. Certo?
Alexandre Urso — Sim, isso é muito comum na Fisioterapia Esportiva, pois trabalha-se pensando na individualidade de cada atleta. Hoje, a grande maioria faz um trabalho pensado no controle de carga, nos exercícios que são pertinentes naquela condição de patologia do atleta, de prevenção. Tentando às vezes trabalhar com a questão corporal, de reajustes corporais, entrando pra quiropraxia, osteopatia, etc. Então, o trabalho hoje é muito maior comparado com 15 anos atrás, quando comecei a atuar. Mas é muito comum, pois a SONAFE mostra que a abordagem principal da Fisioterapia Esportiva é o movimento. Se a gente não consegue trabalhar com movimento, ficamos no caminho.
ZenFisio — Após a vitória da skatista Rayssa Leal, no dia 26 de julho, durante os Jogos Olímpicos de Tóquio 2020, vimos que ela compartilhou em uma rede social, um agradecimento ao fisioterapeuta Carlos Barreto que acompanha ela. Como você considera a relação do atleta com o profissional da Fisioterapia? Você percebe que os atletas têm dado maior importância a presença de um Fisioterapeuta durante as competições?
Alexandre Urso — O que eu sinto é que todo atleta reconhece muito o trabalho do fisioterapeuta. Na primeira vez que eu trabalhei com a Fisio Esportiva, em 2004, uma atleta que depois veio fazer parte da Seleção Brasileira de Vôlei, virou pra mim e falou: “Alê, a gente vive sem o técnico, mas a gente não vive sem o Fisioterapeuta”. Então eu vejo que desde aquela época já tinha reconhecimento, graças também a muita gente que passou antes. Porque não foi a partir de 2005 que isso aconteceu. Já tinha muitos outros profissionais que vieram e abriram esse caminho pra gente. O nosso papel foi, literalmente, caminhar nesse trajeto que eles percorreram e mostrar cada vez mais trabalho.
ZenFisio — Para finalizar, qual a sensação de ter sido o fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino? Como foi estar presente no dia em que o vôlei brasileiro conquistou a medalha de Ouro nos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012? Conta um pouco sobre essa experiência, Alexandre.
Alexandre Urso — A sensação é ímpar. Primeiro de estar vestindo a camisa do Brasil. O pessoal fala que a camisa tem peso e, realmente, tem peso. Naquela hora você olha e fala “Pô, eu não sou o Alexandre, eu não sou o fisio, eu sou 210 milhões de pessoas que estão torcendo pela gente”. Eu lembro até que quando aconteceu o jogo de Brasil e Rússia [Jogo que ocorreu pelas quartas de final, nas Olímpiadas de Londres], um amigo meu me mandou uma filmagem do Shopping Tatuapé [Localizado em São Paulo], o pessoal vibrando na praça de alimentação, vendo o jogo. Então, você vê que faz parte de um coletivo, você faz parte de algo maior. É uma sensação única, poder participar e ver a bandeira do Brasil subindo [momento do hasteamento da bandeira na premiação], é algo indescritível.
Agora que você já sabe tudo sobre o mercado e a atuação da Fisioterapia Esportiva em Olimpíadas, conheça alguns métodos que auxiliam no rendimento dos atletas, como por exemplo, o uso de ventosas. Veja mais sobre este assunto no artigo “O que é Ventosaterapia? Conheça os benefícios dessa técnica”.
2 comentários
nov th, 2022 11:31 AM Responder
[…] de Felipe Meira que trabalha em um time de futebol, como na entrevista para o BlogSouFisio com o ex-fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino, Alexandre Urso, as intervenções tinham planos de ação individuais, mas que também consideravam o desempenho […]
nov th, 2022 8:00 PM Responder
[…] em um time de futebol, como na entrevista para um artigo anterior do Blog SouFisio com o ex-fisioterapeuta da Seleção Brasileira de Voleibol Feminino, Alexandre Urso, as intervenções tinham planos de ação individuais, mas que também consideravam o desempenho […]